Foto: Acidigital |
As mais altas jurisdições francesas
pronunciaram a sentença de morte de Vincent Lambert. Esta condenação
de um homem que apenas é culpado de estar visceralmente preso à sua
sobrevivência, depois de um acidente que o deixou em estado de
consciência mínima, ou seja, incapaz de falar, tem sido objeto de
um impressionante número de artigos mas, curiosamente, nenhum, que se tenha conhecimento, fez uma análise económica desta situação e
dos efeitos que ela provocou. Será necessário corrigir esta
lacuna, porque o amor e o ódio, o altruísmo e o egoísmo, a escolha
entre a vida e a morte, têm uma dimensão económica, como tudo o
que é humano. Vincent Lambert esteve num estado de consciência mínima depois de ter sofrido um acidente de viação no início de 2008. Incapaz de se expressar e de se alimentar a si próprio sobreviveu muito bem graças a uma alimentação e hidratação por cateter e alguns cuidados de fisioterapeutas ou de enfermeiros, nomeadamente para evitar as escaras. Não estava manifestamente em fim de vida; resistiu mesmo a uma paragem prolongada na sua alimentação que teria conduzido à morte mais de uma pessoa de boa saúde. A sua manutenção há mais de dez anos numa unidade de cuidados paliativos, serviço médico destinado a aliviar os últimos momentos de pessoas cuja morte deve, com toda a evidência, acontecer a curto prazo, é um absurdo, não apenas do ponto de vista médico mas, também económico: nesses serviços, o preço é de cerca de 5 000€ por dia, enquanto que os estabelecimentos especializados no tratamento dos grandes deficientes praticam tarifas duas vezes menos elevadas. Assistimos com este caso a primeira aberração económica, que revela muito acerca do nosso sistema de saúde: gasta-se 2 500 € por dia, ou seja, mais de 900 000 € por ano, para manter um paciente num serviço que não é adaptado à sua situação. Em dez anos, isso representa um desperdício de 9 milhões de euros. Parece que a responsabilidade por estas despesas não seria da Segurança Social, mas de uma seguradora privada: é indiferente, um desperdício é sempre um desperdício, algo de negativo para a economia. Se a má gestão de certos serviços públicos implica que seguradoras complementares despendam grandes somas, estas são obrigadas a praticar tarifas mais elevadas, e milhões de pessoas físicas e morais suportam as consequências.Uma dramática destruição de valor. A moeda serve para organizar a produção, o consumo, algumas trocas, a apropriação dos bens, mas, ela deve ser mantida na sua posição de ferramenta organizacional. Os verdadeiros valores não se designam por euro ou dólar, mas por carinho, amizade, amor, gentileza, entrega, generosidade. É por isso que as perturbações introduzidas no seio da família de Vincent Lambert pelo comportamento irresponsável, para não dizer desumano, de médicos e homens da lei, constituem aos olhos de qualquer economista não muito limitado, uma grande perda de valor. Esta expressão, tão frequentemente utilizada a propósito da descida da cotação de uma ação, não deve ser usada em proveito do «mundo dos negócios»: a perda de valor, é, na verdade, em primeiro lugar, a perda de um ser humano, mas também é a destruição de tudo o que significa a verdadeira riqueza da espécie humana, aquilo que sugerimos com as palavras carinho, amizade.
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