Sofrendo de uma doença incapacitante, a doença de Charcot, uma Francesa de 59 anos, Anne Bert, começou há um ano a organizar a sua eutanásia na Bélgica. Muito mediatizada, prometendo a sua morte mesmo antes da publicação do seu livro, logo se percebeu que Anne Bert queria fazer disto um combate político, militando para que o seu país, a França, altere a sua lei do fim de vida, uma vez que a eutanásia é ainda ilegal neste país.
Percorrendo estúdios de televisão e de radio para promover a sua obra, ela também pediu a uma equipa de médicos belgas para provocarem a sua morte no passado dia 2 de Outubro de 2017.
Tendo clara consciência do sofrimento que provoca uma doença como esta, interrogamo-nos sobre o impacto de todas estas entrevistas e artigos na imprensa que revelam uma real militância organizada e emocional: cada vez mais pessoas que vivem num país vizinho, desejam vir para a Bélgica para se eutanasiarem. Aliás, um médico que pratica a eutanásia em Bruxelas já declarou que eutanasiava uma pessoa vinda do estrangeiro uma vez por mês e isto desde há vários anos, e que não podia fazer mais porque era "apesar de tudo trabalhoso para ele" e que, além disso, estava a envelhecer. E apelava a uma alteração legislativa em França.
A publicidade à volta da eutanásia de Anne Bert provocou reações diversas e, nomeadamente, reacções de médicos e das associações de doentes que sofrem uma doença neuro-degenerativa e cada dia trabalham ao lado dos doentes para lhes assegurar uma vida digna e acompanhada apesar da doença.
Segundo a Arsla, a associação para a investigação sobre a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), este ato mediatizado teve como consequência o facto de associar a doença de Charcot à eutanásia, dando assim à doença uma imagem «negativa e terminal».
A associação testemunha que, apesar dos doentes reconhecerem o sofrimento associado a esta doença, eles não se identificam com esta escolha pela eutanásia e, estão, como tal, indignados.
Com efeito, a maioria dos seus doentes não pensam em suicídio ou em morte, pelo contrário, estão «com esperança e vida, a lutar, aproveitando o presente e fazendo tudo para compensar a perda de autonomia ». O professor William Camu, neurologista no CHU de Montpellier, considera que, esta mediatização «excessiva» não respeita o trabalho dos médicos e investigadores «que realizam um formidável acompanhamento médico e humano para diminuir os sofrimentos». Será que a "escolha" de Anne Bert é apenas uma escolha pessoal? Isto não será um pouco mais do que a sua escolha, uma vez que ela decidiu mediatizá-lo? Instrumentalizando assim a sua morte, ela não terá também expressado os seus desejos de ver alterada a legislação no seu país?
Presa neste " tsunami " mediático e na pressão resultante, podemo-nos colocar a seguinte questão: Anne Bert tinha ainda a liberdade de recuar até ao último momento antes da injeção, como exige a lei belga no seu artigo 3, prevendo que a pessoa que pede a eutanásia não sofra nenhuma pressão exterior.
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