sábado, 11 de fevereiro de 2017

Quando tudo isto estiver feito...

Tenho por hábito dizer que deveria ser proibido presenciar tanto sofrimento humano como aquele que já presenciei. Ainda assim estou consciente de que o futuro profissional ainda me reserva muitos momentos de dor, sofrimento e lágrimas. Quando o doente e a sua família sofrem é porque falhamos. E falhamos todos! Desde os profissionais de saúde aos cidadãos. É imperioso acabar com o sofrimento inútil e sem sentido. É impreterível reformular o nosso Serviço Nacional de Saúde e adequá-lo às reais necessidades da população. É necessário fortalecer a rede nacional de cuidados continuados integrados e de cuidados paliativos. É indispensável reforçar planos nacionais, tal como o plano nacional de luta contra a dor. É preciso deixar de considerar normal haver listas de espera para consultas, exames complementares de diagnóstico e/ou tratamentos. Quando tudo isto estiver feito e nada mais for possível, falaremos de eutanásia… Até lá quero e exijo viver com dignidade e cuidar com dignidade. Falar de eutanásia é querer cortar a meta sem correr a maratona.
Testemunho de Ana Raquel Alves, enfermeira do Hospital Garcia de Orta (Almada)

Opinião: de Sofia Guedes, fundadora do STOP eutanásia

Porquê o "Dia mundial do doente"?
Não precisamos de ser crentes assumidos para saber que o sofrimento é uma realidade.
E que é o sofrimento? Podíamos dizer e reconhecer que é algo que faz doer seja no corpo ou na alma. É uma certeza tão real que nenhum ser humano escapa!
Sofrimento é a consequência da Liberdade! Essa liberdade de que o homem foi dotado e da qual não é livre de prescindir. Sofre-se porque a dor nos agarra por inteiro ao ponto de muitas vezes não conseguirmos pensar em mais nada! Sofre-se por muitas razões:  porque dói a doença mais ou menos grave  (uma dor de dentes pode se tornar insuportável,  uma enxaqueca, um pé partido pode levar as lágrimas; e tantas outras que vai até à dor permanente como um cancro, que nos toma por inteiro). Sofre-se porque perdemos o pai ou a mãe, porque morre um filho ou apenas porque esse filho sofre; sofre-se porque aquele que amamos morre ou nos deixa e parte para outras aventuras; Sofre-se porque um filho vai viver para muito longe e temos saudades sem limite; sofre-se porque estamos a ficar velhos e dependentes; sofre-se porque não nos compreendem;  sofre-se porque perdemos todos os familiares e bens para os quais trabalhamos uma vida; sofre-se porque nos sentimos impotentes diante do sofrimento dos outros; sofre-se porque nos sentimos sós.

Sofre-se e muitas vezes não sabemos porquê? Sofre-se!!Porque estamos vivos!
Conclusão: Somos todos Doentes de alguma dor! Então, a solução para acabar com o sofrimento não é a Morte, mas descobrir como podemos transformar esse sofrimento em vida! Como nas dores do parto: não podemos fugir, mesmo que nos dêem anestesias! O nascimento de alguém, é antecedido de sofrimento, mas o fim é  alegria de uma nova vida. Ou seja o sofrimento é um meio para se alcançar o verdadeiro sentido da vida. E já agora para os que acreditam em Deus, alcançar a Vida Eterna, o Paraíso a terra de onde saímos e desejamos voltar. Hoje dia Mundial do Doente, pensemos nisto, num tempo em que a promoção da  morte parece querer vencer beleza e Mistério  da vida!

PCP alerta para a imaturidade do ante projecto de lei da eutanásia do Bloco de Esquerda

Vai ser apresentado no Parlamento dia 15 de Fevereiro, próxima quarta-feira, o ante projecto de lei sobre a morte assistida do Bloco de Esquerda, anunciado na imprensa pelo ex-deputado e antigo dirigente do BE João Semedo, o qual defende que a eutanásia possa ser realizada em espaços privados e "espaços sociais", algo que representa um perigo de “mercantilização” que a lei deve prever.
O secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, já veio dizer que considera ainda prematura qualquer discussão sobre a eutanásia, defendendo um debate amplo, profundo e generalizado. O PCP considera a necessidade de apuramento e aprofundamento sem radicalismos" e que "é prematuro avançar já com posições que não resultam da verificação dessa convergência ampla que é necessário criar para enfrentar este problema".
No Movimento Cívico Stop eutanásia sabemos que uma vez promulgada a lei da eutanásia os limites resvalam rapidamente para os mais frágeis da sociedade. Colocam-se questões nos casos de pessoas que alegam “sofrimento intolerável” sem estarem no final das suas vidas, mas que solicitam eutanásia estando deprimidos, cansados de viver, ou para crianças como se tem aliás verificado com cada vez maior frequência na Holanda e na Bélgica.
Consideramos que existe um grande desconhecimento da eutanásia em Portugal, pelo que verificamos na sociedade civil, nas mensagens do Presidente da Republica e nas declarações dos partidos com assento parlamentar, nomeadamente, o Partido Comunista e o Partido Socialista, pelas declarações de Isabel Moreira, no dia 1 de Fevereiro, dia do inicio do debate na Assembleia da Republica sobre a eutanásia.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Opinião de Antonio Noguera, medico especialista em cuidados paliativos

Por que diz um paciente : "Eu não posso mais"?
Há dias em que acorda, não sabe bem porquê, mas acorda especialmente sensível, como se quisesse encontrar algo que precisa e que o vai completar. Talvez precise de encontrar um motivo para redescobrir o significado, dar algo de volta a alguém que precisa especialmente de ajuda.
Um novo dia de trabalho é especial ou de rotina? Serve para deixá-lo absorver quem está ao seu redor? Significa estar rodeado por colegas, com quem discutir o que fazer para melhorar os pacientes que vamos tratar ao longo do dia.
Os meus pacientes são especialmente frágeis, a maioria deles sofre de cancro avançado, onde os tratamentos só podem retardar o desenvolvimento da doença. Ou então porque não se lhes pode oferecer tratamentos mais específicos. Quando esse tempo vem a nossa obrigação, mais do que nunca, é ajudá-los a superar as dificuldades da doença que sofrem. Em muitos casos, recorrer a tratamentos mais poderosos que faria mais mal do que bem.
Mas será que isso basta?
O que acontece? A progressão da doença enfraquece-os, vão colocar limites sobre o que podem fazer. Todos os meses, a cada semana, até mesmo de um dia para o outro os pacientes devem assumir que, em vez de serem capazes de dar vinte passos, só podem dar dez. Levantar do sofá pode parecer escalar uma montanha. Tudo isso, acontece muitas vezes depois de muito tempo a  lutar para superar uma doença.
Como estão? Abatidos, desanimados, observando a vida que lhes escapa, exaustos de serem como são, mesmo esperando que isso acabe o mais rápido possível. Não é compreensível que estejam assim? Então ... Por que continuar?
É aí que a nossa experiência como médicos, pode ajudá-los a fazerem muitas coisas e, na sua fragilidade, o paciente é que tem de dizer-nos como está.
Já tive pacientes desmoralizados que não querem morrer, mas apenas não querem viver desta maneira. Como médico o meu papel é ver que dentro dos seus limites há muitas coisas que podem continuar a fazer: ainda podem desfrutar de milhares de detalhes do quotidiano. Se os levar a ver que valem muito, se através de um olhar simpático, posso ajudá-los a ver sua dignidade, é aí que realmente estou a realizar o meu trabalho. E para tudo isso, eu não sou ninguém especial. Tudo o que faço é ajudar a iniciar uma estrada, e ter o apoio de uma equipa de médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, capelão ...
Por que desmoraliza o paciente? Eu acho que não é só pelo seu sofrimento, mas pelas milhares de mensagens contraditórias que enviamos sobre o que uma pessoa útil. É normal para um paciente que sofre de uma doença que não pode ser curada, que queira que tudo termine, porque vive numa sociedade, que o faz crer que é um inútil.
Posso assegurar-lhes que quando os ajudamos a "recuperarem" a sua dignidade, vêem-na reflectida na forma como nos importamos com eles, tornam-se exemplos vivos de como superar as dificuldades.
Estes pacientes devolvem todos os nossos esforços com sabedoria e ensinam-nos a estarmos atentos.
Cada paciente é uma lição de como aceitar o fim da vida pela criação de uma relação especial entre a família, a equipa médica e de todas as pessoas ao seu redor. 
Autor: Antonio Noguera,  Atlantes Research Program
Leia a noticia no original aqui.

Holanda: aplica eutanásia a idosa com problemas mentais



A lei holandesa permite a administração da eutanásia desde 2002 apenas nos casos de sofrimento insuportável, porém, é cada vez mais aplicada em pessoas com demência e problemas mentais. Este é o primeiro caso no qual uma médica é formalmente remetida ao Ministério Público por ir além do que a lei permite. Além disso, de acordo com a comissão de avaliação para aplicar a eutanásia, a médica “ultrapassou uma linha” por não ter interrompido o processo, embora a paciente “reagisse negativamente” quando começaram aplicar a droga por via intravenosa.
Segundo o relatório, a médica colocou uma droga no café da idosa para ela dormir. Quando a mulher tentou impedir que lhe colocassem o soro, a médica deveria ter interrompido o processo, expressou o Comité.  Pode ler a noticia aqui.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Entrevista a Ana Sofia Carvalho, Directora do Instituto de Bioética da Universidade Católica

O conceito da eutanásia está muito nebuloso, mesmo no seio da comunidade científica, onde existe uma clara confusão entre aquilo que é deixar morrer - algo que é uma obrigação deontológica de qualquer profissional de saúde quando em determinadas circunstâncias o deixar morrer é o melhor que se pode fazer - e o matar. Todos os dias, em inúmeras circunstâncias, as pessoas que estão doentes e estão em fase terminal são afectadas na sua dignidade cada vez que usufruem do Sistema Nacional de Saúde. É essa preocupação que deve centrar o debate, e não porque o SNS não consegue dar respostas que se deve acelerar o processo da chamada "morte assistida".
 A solução passa por acabar com o sofrimento inútil e sem sentido; passa por investir em cuidados de saúde mais dignos, mais humanos, mais virados para aquilo que é a necessidade de cada doente. A resposta da petição «Direito a morrer com Dignidade» é para acabar com este sofrimento e com a vida das pessoas. Oiça aqui a entrevista na íntegra dada a Rádio Renascença.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

«Se não pedimos para nascer também não temos o direito de determinar quando vamos morrer»

Quem o diz é Maria Alice Alvim, uma das manifestantes, que no seu depoimento a reportagem do jornal Público, conta que teve dois problemas de cancro na sua família. Em qualquer dos casos, defende o melhor dos tratamentos até ao fim, com a ajuda dos cuidados paliativos. Leia aqui a reportagem do  Publico sobre a Manifestação STOP eutanásia.


Documentário sobre a eutanásia na Bélgica

Morrer com dignidade: qual é o papel do direito e da política, quando se trata de construir uma cultura da vida em todos os momentos? No final de 2016 o escritório de Bruxelas de ADF Internacional lançou a campanha "afirmando a dignidade" ou #AffirmingDignity.

Foram realizados vários vídeos curtos para abordar esta questão social, que exigem um novo debate sobre o que a morte com dignidade.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Dez razões para rejeitar a eutanásia e o suicídio assistido

Por José Manuel Jara, médico psiquiatra, fundador da Associação de Apoio aos doentes depressivos e bipolares. Considera que "a chamada morte assistida é um falso direito". São muitos poucos os países que adoptaram leis de eutanásia e de suicídio assistido: Bélgica (Flandres principalmente), Holanda e Luxemburgo (os três únicos na Europa que autorizam a eutanásia e o suicídio assistido); a Suíça, que autoriza o suicídio assistido de maneira privada; cinco estados dos EUA, mas apenas para o suicídio assistido em doença terminal, e o Canadá, que autoriza o suicídio assistido e a eutanásia apenas para doenças terminais, a partir de 2016. Todos os outros países não têm legislação que legalize estes procedimentos. 
Leia esta noticia aqui.