Muitas pesquisas em diferentes países dão a maioria do público a favor da legalização da eutanásia. Mas as coisas mudam se, em vez de fazer uma pergunta genérica, as pessoas são convidadas a considerar situações específicas que revelam a complexidade do assunto, como Dominic R. Mangino e outros pesquisadores verificaram com um estudo que aparecerá no The American Journal of Geriatric Psiquiatria.
Esta pesquisa apresenta uma amostra representativa do público americano sobre se a lei deveria permitir a eutanásia no seguinte caso: pacientes com demência que deixaram instruções para serem mortos se sofressem uma perda total de autonomia e não fossem mais capazes de reconhecer seus parentes.
A segunda etapa começou com a leitura de 1.715 pessoas pesquisadas sobre um caso de eutanásia em paciente desse género (com demência e declaração de diretriz antecipada). Os pesquisadores prepararam seis cenários possíveis e distribuíram-nos aos participantes aleatoriamente:
1. A pessoa com demência reconhece alguns parentes, mas não todos.
2. Apesar de ter deixado instruções para que a eutanásia fosse aplicada se necessário, o paciente, já com demência, diz que não quer morrer
3. A pessoa não apresenta sofrimento aparentemente.
4. Incapaz de compreender o que acontece quando é sacrificado.
5. Antes da eutanásia, o paciente é sedado sem perceber.
6. Quando está prestes a aplicar a injeção letal, a pessoa parece resistir.
Eles então fizeram duas perguntas aos participantes:
A eutanásia deve ser permitida em tal situação? 2) Suponha que a eutanásia fosse legal e, portanto, autorizada em tal situação. Você seria a favor ou contra a legalização? As respostas foram classificadas na mesma escala anterior..
Opiniões não comunicadas: descobriu-se que uma proporção considerável dos entrevistados mudou de posição após considerar a situação proposta. Os que tinham dúvidas na primeira parte da pesquisa, foram eles que mais mudaram: 37% passaram a rejeitar a legalização e 16% a apoiá-la. 35% dos que eram inicialmente a favor da legalização começaram a duvidar ou rejeitar. Os que mudaram menos no início declararam-se contra a legalização: 22% ficaram em dúvida ou a favor. O apoio à eutanásia diminuiu em todos os grupos de participantes após considerar as situações propostas. A aceitação da eutanásia caiu mais nos casos levantados do que a aceitação da eutanásia em geral. Por exemplo, dos entrevistados que consideraram o caso de aparente falta de sofrimento (situação 3), os partidários da legalização da eutanásia passaram de 53% para 43,5%; Mas houve ainda menos quem considerou a eutanásia admissível neste caso: 33%. A maior variação ocorreu naqueles que consideraram o caso dos que dizem não querer morrer (situação 2): o apoio à legalização da eutanásia caiu para 36,5%. A menor diminuição, 49,3%, corresponde ao caso de falta de consciência (situação 4). Nisso, observam os autores, há uma diferença entre o público e os médicos: para eles, o fato de o paciente não conseguir entender o que está a acontecer pode ser um motivo frequentemente utilizado para o não cumprimento da diretriz antecipada. No geral, a opinião favorável à legalização da eutanásia caiu dos 54,4% iniciais para 41,6%. A posição contrária passou de 23% para 35,3%. A proporção de pessoas duvidosas permaneceu praticamente a mesma.
Os autores concluem que os resultados das pesquisas não refletem opiniões suficientemente consideradas. A eutanásia é uma questão complexa, “com uma infinidade de dificuldades diferentes”, e muitas vezes o público não está bem informado quando simplesmente perguntado se deve ser legalizada.
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