Querido Charlie
Ainda esta noite, o meu filho de nove anos surpreendeu-me com esta frase: "Mãe, o Pedro está a dormir, não é melhor pôr-lhe a ventilação"? Fiquei surpreendida por esta atenção ao seu irmão doente, que nos ajuda na tarefa de cuidadores, mas também pela normalidade que a ventilação já tem em nossa casa.
O Pedro tem 4 anos e usa um BiPap sempre que está a dormir. Não é igualzinho ao teu, a este chamam não-intrusivo. O Pedro, como tu já teve um ventilador intrusivo. Aquele que tu tens há 10 meses, o Pedro precisou durante 3 semanas, numa pneumonia muito grave. Foi tempo suficiente para o seu corpo mudar! Aproximou-se, nesse tempo, do corpo que ele teria se a sua respiração fosse normal. No final dessas semanas e depois de duas tentativas, conseguiu respirar autonomamente sem essa ajuda, graças a uma potente intercessão milagrosa e um empenho paciente e generoso da equipa médica. Depois disso o seu corpo voltou rapidamente àquele que é o dele: um tórax menos amplo, levemente afunilado no peito. É o seu corpo deformado pela doença, que, aos poucos, aprendi a amar.
Querido Charlie, como os teus pais te amam! É um sinal evidente para todo o mundo, do amor de Deus por ti, uma afirmação clamorosa do teu inestimável valor, que leva tantos a amar-te, mesmo sem te conhecer. Este amor não carece de suporte de vida. É a própria vida. E a tua, como a de todos nós, cumpre-se no encontro com o Senhor da Vida, que te quis, assim parece, para que pudesses rapidamente voltar a Ele, não sem que, nesse tempo, nos provocasses profundamente, aumentando em nós a consciência de que não somos os donos da vida.
Querido Charlie, isto é tão difícil para nós pais, que desejamos ter os nossos filhos connosco. Sou muitas vezes obstinada com todos os meus quatro filhos, de maneiras bem diferentes. Mas amar, aprendi com a Chiara Corbela Petrillo, é o contrário de possuir. Os meus filhos não são meus, como tu não és dos teus pais. Tu pertences a este Senhor, que "dá a respiração a todas as coisas". Àquele que verás face a face, no dia do cumprimento do teu destino. E a máquina que te deu a respiração até aqui, não se aproxima nem um pouco da beleza que nesse dia irás encontrar.
Rezo por ti, pelos teus pais e por toda a tua família, com coração comovido pelo amor que exaltaste em nós e pedindo que este forte desejo de união contigo, nos faça desejar cada vez mais a união com Aquele que nos dá, a todos, a vida e a respiração.
Inês, mãe do Pedro
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