quarta-feira, 7 de março de 2018

Cuidados Paliativos: em todos os lugares e para todos -parte I - por Dra. Teresa Sarmento



O workshop Palliative Care: everywhere and by everyone, organizado pela Pontifícia Academia pela Vida, teve lugar em Roma de 28 Fevereiro a 1 de Março.
Com um programa abrangente e um leque de oradores de excelência, foram abordados ao longo destes dias questões muito diversas e importantes. A primeira mesa do dia, moderada pelo Dr.Carlos Centeno (Univ. Navarra) e a Drª Liliana de Lima (International Association for hospice andpalliative care), discutiu-se o valor dos cuidados paliativos. O Dr. Eduardo Bruera (MD Anderson Cancer Center) falou de comointervenção dos cuidados paliativos melhora o controlo de sintomas e na dificuldade que existe em demonstrar este beneficio aos agentes decisores, nomeadamente administradores hospitalares. Com muito sentido de humor descreveu as várias fases de atuação perante os CP, reforçando a importância da investigação e do rigor cientifico na afirmação do valor dos cuidados paliativos. O papel da intervenção dos cuidados palliativos no desenvolvimento e melhoria da sociedade e da medicina foram outros dos temas abordados. Marie-Charlotte Bouesseau, da OMS, falou da importância dos Cuidados Paliativos na Saúde Pública, importância reconhecida pelas Nações Unidas, que definem o acesso a estes cuidados como um direito humano.
Na segunda sessão, palliative care everywhere, os diversos intervenientes falaram da realidade dos cuidados paliativos nas várias regiões do mundo. As disparidades de recursos (nomeadamente farmacológicos e de pessoal com treino), de acesso e de valorização dos cuidados paliativos no mundo são claramente notórios. Sendo os cuidados de saúde uma das primeiras causas de falência económica individual nos USA, o acesso aos cuidados paliativos é ainda insuficiente, e por vezes pouco aceite pela sociedade que os considera como uma derrota da medicina interventiva e curativa. Torna-se, assim, crucial que nos países com mais recursos económicos se continue a investir seriamente em investigação, para que a maior disponibilidade de evidência científica possa ser um motor de mudança e impulsione o desenvolvimento desta área . Nas regiões do mundo com mais baixos recursos económico, apenas um infíma parte da população tem acesso a este tipo cuidados e, mesmo esses, deparam-se com uma grande dificuldade de disponibilidade de fármacos. As diferenças culturais são também muito notórias nesta área. Na região da Ásia-Pacifico, por exemplo, um projeto da Universidade Católica da Coreia (Seoul), apresentada por (irmã) Jinsun Yong, trabalhava a importância da espiritualidade nos profissionais e doentes, enquanto que a necessidade de excelência, mas ao mesmo tempo criatividade, motivação e originalidade foram os principais focos da apresentação de Emmanuel Luyirika (Uganda) da African Palliative Care Association. O impressionante testemunho dos primeiros passos e do desenvolvimento dos Cuidados Paliativos na India, e de como uma Associação de profissionais católicos (CHAI-Catholic Health Association in India) tem desenvolvido um trabalho notável com doentes paliativos, dentro de um enorme respeito pelas diferentes crenças, religiões e convicções, realça como o olhar atento para cada ser humana consegue ajudar a melhorar a vivência de uma situação de sofrimento, mesmo com acesso a poucos recursos. De realçar ainda a importância crescente dos Advocates Patients junto dos centros de decisão e da sociedade em geral, na sensibilização para esta área e na promoção dos cuidados paliativos e da necessidade de serem alocados recursos vitais para esta área.
*Teresa Sarmento, Médica Oncologista no Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro EPE