quinta-feira, 6 de abril de 2017

Próxima Sessão de Esclarecimento STOP eutanásia em Vila Franca de Xira, no dia 20 de Abril



O movimento cívico STOP eutanásia vai participar numa sessão de esclarecimento sobre a eutanásia e possível despenalização dos profissionais que a praticarem em Portugal, no Clube Vilafranquense, dia 20 de Abril, quinta-feira, às 21 horas, na Av. dos Combatentes Grande Guerra, nº 38, Vila Franca de Xira.
São oradoras desta sessão Sofia Guedes e Graça Varão, fundadoras do STOP eutanásia e as enfermeiras de cuidados paliativos Ana Sofia Santos e Ana Guedes. Após as intervenções das oradoras haverá um tempo de perguntas e respostas com a assistência.  
Convidamos a população do Ribatejo a assistir e participar nesta iniciativa cívica para ter mais informação sobre os argumentos que estão em causa para a morte assistida por médico.
Só tendo acesso ao conhecimento sobre este tema tão complexo e fracturante para a vida das famílias e da sociedade portuguesa podemos participar de forma cívica junto de quem exerce o poder.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Médicos do Canadá querem objecção de consciência nas leis de morte assistida

A Dra. Natalia Novosedlik, do grupo de médicos que querem a "proteção da consciência" na lei de morte assistida da província de Ontário, no Canadá,  disse  à CBCnews que os médicos que se opõem à eutanásia ou ao suicídio assistido por médico não deveriam ter de encaminhar os pacientes a um médico que não tenha tais objeções, como acontece agora.
O grupo, Coalition for HealthCARE and Conscience, iniciou uma campanha por e-mail para exortar os deputados a emendar a Lei 84, Lei de Emenda à Lei de Assistência Médica para Morrer (MAID), para incluir a proteção da consciência "para médicos e profissionais de saúde que queiram ser objectores de consciência na lei MAID. "
Este facto surgiu depois de uma médica de cuidados paliativos da cidade de Scarborough, no Canadá, ter dito que gostaria que o Ontário, adotasse um modelo de acesso direto para o suicídio assistido por médico. Tornando este acesso amplamente disponível para os pacientes, ignorando os médicos que se opõem ao procedimento.
Para saber mais sobre esta notícia leia aqui.

terça-feira, 4 de abril de 2017

A vida que há na morte

Publicamos um excerto do artigo do Expresso, do dia 2 de Abril, sobre a morte vista por profissionais de saúde que acompanham o ultimo suspiro de doentes terminais.



"Medo, Miguel Tavares ainda terá algum, mas aos 42 anos mudou muito, porque metade da sua vida foi passada a lidar com os últimos momentos de milhares de doentes. Enfermeiro numa unidade de cuidados paliativos na Região Norte, a sensação da banalidade da finitude colou-se-lhe à pele, afinal, aquela “não é uma camisola que se despe”. Vestiu-a ainda no estágio, ao ver um idoso com um cancro muito avançado ser obrigado a fazer uma colonoscopia, sem anestesia, um dia antes de morrer. “Aquele corpo foi ultrajado, e perguntei-me se não havia outra forma de lidar com a morte iminente.” Depois de anos nos cuidados intensivos, teve de decidir se continuava e, com receio de “tornar-se demasiado técnico por trabalhar com doentes inconscientes”, preferiu mudar. Há 16 anos não se ouvia falar em cuidados paliativos, até que uma colega trouxe a mensagem de Espanha. E foi aquele o caminho escolhido, até hoje sem desvios.
“O ato biológico de morrer é perfeitamente banal, mas o processo é profundamente individual”, sublinha. Razões que se erguem à noite, quando as luzes se apagam e os doentes veem-se mais sozinhos. “A noite é péssima companheira para alguém em fim de vida. É mais silenciosa, escura, um momento para encarar o passado. Muitas pessoas que quase não se queixam durante o dia, à noite requisitam muito apoio, e quando começa a amanhecer adormecem.” Explica que “não é de analgesia química que precisam, mas de analgesia humana, para uma dor mais profunda que o sofrimento físico”.Já ouviu segredos de vida, calou desabafos há muito adiados e percebeu que os doentes terminais costumam passar por três fases. Chegam revoltados, tentando encontrar culpados para a situação que os enferma, depois rendem-se e entregam-se aos cuidados sem maiores reivindicações. Os que têm tempo atingem a transcendência com uma clareza que impressiona. Doentes houve que já o fizeram chorar, e quando isso acontece Miguel agradece-lhes.
“Digo muitas vezes obrigado por me permitirem estar ali, a acompanhá-los.” Também foi por eles que várias vezes repetiu o exercício de escrever uma lista do que gostaria de fazer no último ano de vida. Descobriu que mais de metade eram coisas para fazer acompanhado. E foi assim que se foi descobrindo. “Sou contra a eutanásia, porque acredito que há alternativas e, sobretudo, porque penso que quando o homem vier a decidir sobre a própria morte, ele que não decide sobre o próprio nascimento, é porque se está a sobrepor a algo que não é sua função.” E é por isso que, diz, mais do que ajudar as pessoas a morrer, a sua tarefa “é ligar as pessoas à vida, enquanto cá estão”.
É no que também acredita Edna Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos. Tanto que tem descoberto recentemente que o melhor tratamento que pode dar a alguns dos seus doentes em fim de vida é reduzir-lhes a medicação. Recorda um homem que era agressivo com a equipa médica e com a família, até que uma conversa revelou que o foco dessa intranquilidade era uma filha, também ela com problemas de saúde, que precisava dele. Tentaram encontrar formas de a amparar e, assim, pacificar o pai. Ou o doente com um cancro avançado, metastizado, que gritava de dor, confuso, até que lhe diminuíram a medicação, dando-lhe oportunidade para falar da doença, contar o que o atormentava. “O mais fácil era aumentar a dose, mas não é para isso que lá estamos, é para fazer as pessoas viverem. Matar, mesmo que metaforicamente, é crime.”
Pode ler todo o artigo aqui.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Monitorização da mudança de paradigma de suicídio assistido, segundo Mark S. Komrad

A questão do suicídio assistido por médicos é uma questão que tem sido debatida tanto na comunidade médica como na população em geral. Alterações recentes da lei, por alguns países europeus, trouxeram a questão para a linha da frente, talvez mais do que nunca.
Mark S. Komrad, ético do Sistema de Saúde de Sheppard Pratt, em Baltimore discutiu estas mudanças durante a reunião anual da associação psiquiátrica americana, em Atlanta, em Setembro 2016. Países como a Bélgica e os Países Baixos estiveram na vanguarda destas mudanças durante a última década, permitindo o acesso da doença mental a este procedimento, além dos doentes terminais, os únicos que estavam qualificados até este ponto.
Para muitos psiquiatras, um dos seus maiores desafios na sua prática diária é trabalhar para mostrar aos pacientes que o suicídio não é a solução para seus problemas. Mas mudanças nos critérios de suicídio assistido por médicos na Europa incluem permitir a doença mental como um critério a ter no suicídio assistido.
Na reunião anual da Associação Psiquiátrica Americana, Mark S. Komrad, disse que os psiquiatras estão numa posição muito difícil na Europa, razão pela qual já há trabalho feito nesta área para garantir que leis semelhantes não sejam promulgadas nos Estados Unidos e noutros países no mundo.
Komrad disse que estas mudanças "apresentam como finalidade" ter o suicídio como uma opção nos planos de tratamento para pacientes com doença mental. Durante a reunião anual da Associação Americana de Psiquiatria, Komrad liderou um esforço no congresso da organização para aprovar uma resolução contra a permissão de leis semelhantes sobre o tema a ser aprovado neste país, que permitiria a doença mental ser um critério aceitável para um paciente terminar a sua vida com a ajuda de um médico. Esta é a questão mais importante que abordou na sua carreira e que o tem levado a trabalhar por esta causa mais do que por qualquer outra.
Leia esta noticia no original aqui .

A dignidade é inegociável, inatacável, porque é inerente ao ser humano, diz Isabel Galriça Neto

A médica Isabel Galriça Neto* trabalha em cuidados paliativos há mais de 20 anos, e  participa no debate em Portugal sobre a eutanásia há um ano a esta parte.

“A eutanásia é errada por princípio e perigosa se algum dia for aprovada. Este não é um debate confessional ( religioso ou doutrinal ). Temos de estar atentos, porque também não é uma questão só política, filosófica ou social, é sobre os valores duma sociedade que se quer ter para responder às pessoas mais vulnerareis. Também não é um debate só para ter acesso aos cuidados paliativos, os quais são cuidados de saúde rigorosos que se dão a pessoas que estão em grande sofrimento.
Neste debate há demasiado eufemismo, o que acho interessante, é a colagem a um determinado tipo de léxico, em que podemos ser todos enganados, a lógica não é sobre a eutanásia, mas a morte assistida. É um branqueamento, porque quero morte assistida, mas não eutanásia. O que queremos é que pessoa tenha cuidados até à morte e isso é morte digna. Mas os que estão a favor da eutanásia dizem que a morte quer-se digna pela eutanásia, como se todas as outras mortes não fossem dignas. Sempre a questão da dignidade e dos direitos. Uma ilusão sobre a autonomia e a liberdade. Tenta-se arranjar umas palavras suaves. Mas temos que ser realistas, clarificar as pessoas e continuar a falar de eutanásia. A questão do direito à proteção da vida humana não é um valor confessional, mas um valor civilizacional. Nos direitos humanos está consagrado o direito à proteção da vida humana. E a propósito de direitos fala-se da dignidade, autonomia, liberdade, etc. É preciso desmontar esta ideia. A dignidade é inegociável, inatacável, porque é inerente ao ser humano. Não há circunstâncias onde a dignidade está em causa. Então, assim, com este argumento da dignidade, pode levar a que umas vidas possam continuar e outras não, porque são descartáveis. A dignidade e sofrimento, como se o sofrimento pudesse pôr em causa a dignidade.
A obstinação terapêutica é tão grave como a eutanásia. Se aceitarmos que o certo é a razão para acabar com a vida de alguém, as razões desse sofrimento vão-se alargando, e passamos dos casos pontuais para a realidade como: estou deprimida porque enviuvei, fiquei sem um filho. Estes casos já acontecem na Holanda !
Ora a minha liberdade está limitada com a liberdade dos outros. Os partidos dizem sempre que é só para casos de pessoas em grande sofrimento. É o que diz a lei sobre eutanásia anunciada pelo PAN. Se olharmos para aplicação de leis como querem propor o Bloco de Esquerda, vão muito para alem do que pensamos.
Na Holanda fazem 17 eutanásia por dia, e não podemos dizer que não é um caso pontual. São mortas pessoas que não pediram. Há pessoas que estão a ser mortas em princípio de demências, pessoas em luto, etc. Mas aquele que está ano nosso lado e que sofre merece uma atenção da parte da sociedade. Em Portugal 70% dos doentes não tem acesso a cuidados paliativos. Precisamos de agir enquanto cidadãos e realizar muitos destes encontros, ter pessoas que digam e afirmem que são contra a eutanásia. Temos que nos unir do ponto de vista cívico, as pessoas gostam de participar nestas iniciativas sociais de defesa da vida. Um aspeto a melhorar é a formação dos jovens médicos em cuidados paliativos. O referendo não é solução: vamos referendar o direito a ser morto?"
*Discurso de Isabel Galriça Neto na Sessão de Esclarecimento sobre Eutanásia na Paróquia Nossa Senhora do Amparo, dia 28/03/017