segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Os sinais significam - uma abordagem espiritual, por Margarida Varela


Para o cristão os sinais significam. Significam porque têm a força reveladora da vontade de Deus. 
No próximo dia 20 de Fevereiro será levada à Assembleia da República a discussão sobre a despenalização da morte assistida. Os deputados terão 97 minutos para debater um assunto que implica a decisão sobre a vida e a morte. O valor inviolável da vida humana em 97 minutos. As propostas de “eutanásia”, “morte medicamente assistida”, “boa morte”, ou qualquer outro nome que se lhe queira atribuir, apresentadas por vários partidos têm algumas nuances na forma processual, que, para alguns, poderá fazer toda a diferença, porém não nos deixemos enganar todas elas têm o mesmo resultado... o poder de dispor sobre a vida do ser humano. Como cristãos não podemos ficar indiferentes, não podemos passar ao lado deste debate que pretende introduzir uma variante à Legislação Portuguesa numa matéria tão específica como a eutanásia que nos é apresentada como um direito, como uma manifestação de liberdade do indivíduo mas que incorre no risco de se tornar um dever. Internacionalmente é conhecido como efeito rampa deslizante: já que é uma porta que se abre para uma dimensão de facilitismo. Como refere a jurista Isilda Pegado: “após a legalização, todo o aquele que se encontre numa situação de dependência, de carência, de se sentir um peso para a família para a sociedade, acaba por ter a “obrigação” de pedir eutanásia. E esta ferida que se abre na sociedade é uma maldade que fazemos a todos, pois todos podemos cair nessa situação.” Curiosamente neste dia 20/02/2020 a Igreja celebra o Centenário da subida ao Céu da nossa “pequenina” Santa Jacinta Marto. Será mera coincidência? Porque vamos a Fátima? Que nos leva lá? Porque está o recinto do Santuário cheio tantas e tantas vezes? Certamente que nos move a fé em Deus, a confiança na solicitude de Nossa Senhora. Certamente, porque acreditamos que Nossa Senhora do Rosário apareceu a três crianças, na Cova da Iria, pedindo-lhes que rezassem pelos pecadores, oferecendo sacrifícios pelos danos ao Imaculado Coração de Maria. Certamente porque Nossa Senhora é aquela Mãe que nos conforta e dá alento nos dias mais difíceis. Mas será que conhecemos realmente a vida destas crianças, escolhidas por Deus, para passarem ao mundo uma mensagem de amor tão poderosa que passados mais de 100 anos das aparições de Maria, no meio de uma Serra dum Portugal pobre e carenciado, continua a atrair a uma singela Capelinha multidões do mundo inteiro? Pessoas que peregrinam dos quatro pontos cardeais para colocar aos pés de Maria os seus corações, as suas preces, os seus sofrimentos, as suas vidas. Peregrinos que chegam e partem todos os dias de Fátima sentindo-se abençoados, em paz, felizes. Não há ninguém que seja indiferente ao fenómeno de Fátima, mesmo o mais séptico se rende à tranquilidade e ao bem-estar deste local.
Que pediu Maria a Jacinta? Que pediu Nossa Senhora a uma criança? No final de 1918 Santa Jacinta, em grande alegria, conta à sua prima Lúcia: “Nossa Senhora veio nos ver e diz que vem buscar o Francisco, muito em breve para o Céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-Lhe que sim. Disse-me que ia para um hospital, que lá sofreria muito. Que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados contra o Imaculado Coração de Maria, e por amor a Jesus. Perguntei se tu ias comigo. Disse que não. Disse que ia minha mãe levar-me e, depois, fico sozinha!”. Jacinta foi favorecida com novas visitas de Nossa Senhora, enquanto esteve sozinha no Hospital em Lisboa. Apesar das dores a alegria de saber que dava a vida pelos pecados do mundo nunca a abandonou. Partiu para o Céu no dia 20 de Fevereiro de 1920, o quarto onde estava encheu-se dum agradável odor a flores que exalava do seu corpo. A pequena pastorinha de Fátima deu sentido de salvação ao seu sofrimento... que sabedoria maravilhosa a desta criança. Vivemos num mundo que não valoriza o verdadeiro sentido da vida, como afirma a psicóloga Marian Rojas vivemos numa sociedade “hiperestimulada” e “psicologicamente doente” incapaz de aceitar o sofrimento e a dor, onde a procura da “felicidade” se impõe a qualquer preço mesmo quando esse preço seja riscar da vida, ou dos horizontes de cada um, a própria vida que sofre. Estamos dependentes de sentir estímulos constantes, intoxicados por um desejo incessante de sentir coisas que nos deem uma ilusória sensação de boa disposição. Mas o que é a vida? O que é a felicidade? Se as nossas vidas não têm um sentido maior que a própria vida humana, dificilmente encontraremos a felicidade, gera-se um vazio espiritual. E, ainda menos encontraremos a felicidade se nos limitarmos a esconder, fugir, ou até mesmo matar tudo o que se nos apresenta como difícil de resolver e entender como é o caso do sofrimento e da doença, como é o caso da própria morte. Temos muita dificuldade em entender a morte, porque sabemos que não está sob o nosso controlo. Uma sociedade sem Deus vive na ilusão que pode ter poder sobre todos os elementos e também sobre a vida e a morte. Para o cristão é mais fácil aceitar o sofrimento e a morte porque sabe que neles há um desígnio de Deus, há um sentido de Vida Eterna. Há um sentido de verdadeira felicidade. Todos os dias Fátima enche-se de peregrinos que vêm dar graças a Deus pela Santa Jacinta. Se a mãe de Jacinta tivesse optado por matar a filha porque esta estava a sofrer imenso, porque tinha dores difíceis de suportar, porque nenhuma mãe gosta de ver um filho a sofrer, porque mais vale acabar com o sofrimento do que dar-lhe um sentido de salvação, que seria da Cova da Íria? Que seria da mensagem de Fátima? Que seria de tantos milhões de crentes que ali encontraram milagres, conforto para as dores, amparo para os seus sofrimentos, alegrias, conversões? Para o cristão os sinais significam... Não nos deixemos enganar pela lógica do mundo que justifica a vazio espiritual em que vive tornando o ser humano descartável. É importante termos a noção que nunca tivemos tanto acesso a informação como agora mas também nunca fomos tão vulneráveis a sermos enganados porque não temos tempo para pensar, não damos espaço ao silêncio para ouvir o que o Espírito tem para nos dizer. Paremos... Pensemos... Olhemos para este sinal como um incentivo a nos unirmos em redor de Santa Jacinta Marto pedindo, por sua interceção, a Deus que ilumine os corações dos nossos governantes, que inspire neles a doçura, a humildade a coragem para dizerem: Stop Eutanásia!
Margarida Varela, especialista em História de Arte

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