" Sou
capelão do Hospital Miguel Bombarda e nunca vi ninguém pedir a
eutanásia. O que vejo no Hospital é a preocupação em ajudar as
pessoas. O Estado não é dono da sociedade, nem os deputados, mas
têm que legislar sobre determinados assuntos da nossa vida. Há um
ponto, em que vigoram as ideologias de políticos populistas: a eutanásia, que aparentemente é uma
palavra bonita, em grego, quer dizer boa morte. Mas hoje existe a
perversão desta palavra. Antigamente, a morte vivia-se junto dos seus mais
queridos, agora pedem a eutanásia, morre-se muitas vezes sozinho. Na
Europa, só há debates de certos temas em países mais abastados, que vivem sem valores humanos. A
morte foi o último tábu do sec. XX, depois do sexo. Porque não
queremos grandes preocupações na vida. Actualmente, existe a
psicologia do moribundo, ou seja, quem está para morrer despede-se dos que
mais ama! Nós é que não damos conta. A despedida, às vezes, é já
de um lado de lá, e não entendemos que isso está a acontecer. Os
médicos que sabem que o sofrimento faz parte da vida, são contra a
eutanásia. Os médicos que não sabem, são a favor. Sempre houve
grupos minoritários que dominam muitos sectores da sociedade, como a política e a opinião pública, e que querem impor à maioria ideias erradas.
Há 200 nações na ONU, e só há cerca de 40 democracias, como é possível?! Para mim o mais importante é a minha crença, o
cristianismo. E não existe mais nenhuma corrente filosófica que
supere isso.
Recentemente,
foi encontrada uma sepultura de um menino com cerca de 5 anos numa
espécie de templo do paleolítico. Os arqueólogos repararam no
cuidado com que foi sepultado, a sepultura revelava ter sido bem
preparada, com carinho. Porquê? Para levar o menino para uma outra
vida.
Nós somos
muito limitados e a nossa noção de Felicidade tem circunstâncias
que nos fazem olhar mais para o conforto, o dinheiro, ter bens. Mas
quanto vale materialmente a vida humana? Em qualquer parte do mundo,
tem um valor diferente, porque os tratamentos são pagos de
diferentes maneiras. A morte do outro é um facto, é uma morte de
mim. A verdade é que só morremos uma vez. Ninguém deve morrer sem
poder despedir-se! Temos de estar atentos, porque todos se despedem
de nós. Não deixem que nos roubem a nossa última hora. Há um livro que
fala de pessoas que se despediram A morte e o Morrer. A vida vista
por uma pessoa que sabe que vai morrer.
Morrer com dignidade, não é
o mesmo que pedir a alguém que o mate, livro de José Matoso, O
Culto dos Mortos.
Estejam
atentos, porque estão a enganar-nos gravemente com mentiras sobre a morte."
Por ocasião da Sessão sobre Eutanásia na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, dia 28/030/17.
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