segunda-feira, 24 de abril de 2017

Centrar o olhar na Pessoa – O que é ser Pessoa?, por Graça Varão*

Centrar o olhar na Pessoa – O que é ser Pessoa?


O ser humano é Pessoa desde o primeiro momento da sua conceção até ao último minuto de Vida. Ser Pessoa é muito mais do que o corpo, do que a sua biologia, pois engloba também uma dimensão emocional, racional, social e transcendente. O doente em coma profundo ou debaixo de uma anestesia total não pensa, está inerte, insensível e sem entendimento. No entanto a sua vida continua a ser sagrada. Não no sentido religioso do termo mas na medida em que é inviolável e inspira o máximo respeito. A vida é sempre bem Supremo! E esta vida nestas circunstâncias continua a ser Pessoa. Toda a Pessoa é Digna. Afinal o que é a Dignidade?
É o mais poderoso motor de solidariedade e de desenvolvimento integral de todos. Dignidade significa que todo o ser Humano tem um valor intrínseco infinito… que transcende a própria natureza temporal. (também os miseráveis, os degradados, os criminosos,… ) Só assim se compreende as extraordinárias obras e iniciativas de entrega gratuita ao outro.
A Dignidade Humana é intocável. Aceitar a eutanásia é aceitar que a Dignidade e o Valor da Vida Humana podem variar e podem perder-se. A dignidade da vida humana deixa de ser uma qualidade intrínseca, passa a variar em grau e a depender de alguma dessas condições externas. O que exclui a eutanásia é exatamente o respeito pela dignidade humana.
A Dignidade é expressão da Humanidade do Homem. Não depende do reconhecimento do outro, pois é uma qualidade inerente ao próprio Ser e abarca toda a vida humana. A dignidade de uma pessoa não se mede pela sua popularidade, pela sua utilidade para a sociedade, nem diminui com o sofrimento ou a proximidade da morte… e nunca se perde. Se a vida humana não vale por si mesma, qualquer um pode sempre instrumentalizá-la em função de qualquer finalidade. Também não é atribuída pelo Direito. É antes, e sempre, merecedora de proteção pelo Estad
A Pessoa é livre. A Liberdade do homem é constitutiva do próprio Ser Humano. Contudo a sua autonomia, ou autodeterminação não é absoluta. Sabemos que o argumento da liberdade individual é enganador. Que ninguém é autónomo em absoluto. Podemos dispor do que temos e do que é nosso, mas da vida não, pois ela não é algo que temos, é algo que somos.
A Liberdade em termos de Autonomia Pessoal / Autodeterminação
A Liberdade não é absoluta porque o Homem tão pouco o é. Somos seres criados. A nossa Liberdade é condicionada –Ortega Gasset falava em “eu e a minha circunstância” Não dispomos nem determinamos os condicionamentos da nossa própria natureza (não podemos voar, necessitamos de comer e de descansar, não podemos fugir à doença, ao envelhecimento e à morte).
A Liberdade em termos de Independência Social
Ser Livre não é ser independente. Somos seres dependentes e interdependentes. Somos seres Sociais! Desde que nascemos, estamos condicionados pela família, nação, cultura, com uma determinada herança genética ou de saúde. Estas circunstâncias fazem parte da nossa condição humana e definem-nos enquanto pessoa. A vida não pode ser concebida como um objeto de uso privado, como se estivesse de forma incondicional à disposição do seu proprietário para a usar ou a deitar fora de acordo com o seu estado de espírito ou determinada circunstância. Ninguém vive para si mesmo, como também ninguém morre para si próprio.
A essência do homem é Coexistir. A vida tem uma referência social e transpessoal, associada ao amor, à responsabilidade, à interdependência e ao bem comum. E o valor da vida de cada pessoa para toda a sociedade não desaparece quando essa pessoa deixa de ser útil, deixa de produzir, perde quaisquer capacidades, ou pode vir a ser sentida como “peso” pelos outros.

10 IDEIAS SOLIDÁRIAS
Esta é a Dimensão humana do problema, porque qualquer que seja a situação, o caso ou a doença, ou a perspetiva com que se quer olhar para a mesma, no centro dessa realidade está um ser humano… está uma Pessoa.
Esta dimensão humana da abertura ao outro (coexistência) tem que nos levar a pensar que todos temos uma Missão Humana que passa por olhar para o outro, tocar no outro, dar-se ao outro!
Esta "sede" de Humanidade que todos temos… num mundo tão desumanizado e impessoal… levou-nos a lançar esta iniciativa das 10 IDEIAS SOLIDÁRIAS!
Porque cada um de nós é um Bem para o outro!
É de tal forma inerente à nossa humanidade este “olhar” para o outro, que nos tornamos melhores Pessoas (…”mais Pessoas”) quando Também nos damos aos outros (com uma palavra, um gesto, um sorriso... ou com o nosso tempo)
Consciencializar a nossa missão humana é importante, faz-nos bem… mas compromete-nos!!!

E com este desafio -10 IDEIAS SOLIDÁRIAS - podemos estar a contribuir para a mudança de paradigma na nossa sociedade tantas vezes fria e pouco humana.

* Fundadora do Movimento Cívico STOP eutanásia

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