quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Acompanhar doentes em situações de doença crítica: como superar o momento difícil.

Sou Patient Advocate e acompanhar doentes a tratamentos no estrangeiro é um dos serviços que presto. A maior parte destes doentes tem cancro e está numa fase avançada da doença. Ter cancro é ,infelizmente, quase sempre associado a uma sentença de morte e, mesmo quando a doença não se apresenta como mortal, os doentes sentem-se, quase sempre, sentenciados e sem esperança. 
Todos queremos viver, mas por vezes a doença rouba-nos a força de querer continuar. A dor física (muitas vezes insuportável) e a dor emocional tendem a tornar cinzento o nosso horizonte e facilmente deixamos de conseguir sequer vislumbrar a beleza da vida. Uma grande parte do meu trabalho é devolver essa esperança perdida, não só porque os tratamentos a que levo os doentes são muito eficazes, mas também e não menos importante, porque sei por experiência própria que a vontade de viver é por si só terapêutica e salvífica.
Grande parte da força que preciso para acompanhar estes doentes nos aspectos técnicos, médicos e logísticos vem da minha história de vida. Conto-lhes como, também, eu já superei duas doenças muito graves, sem cura. Fiz os tratamentos acreditando que era capaz de as vencer se lutasse e acreditasse, de corpo e alma, que ia ficar bem. Como sou católica apoiei-me na minha fé.
Neste relato sublinho sempre o investimento mental/emocional que fiz em querer curar-me. A Psicologia comprovou há muito que 30% da capacidade de superarmos uma doença está nesta determinação de vencermos a batalha que à partida parece perdida. Na maior parte dos casos, a minha história cria empatia no doente, fazendo-o sentir-se compreendido, apoiado e inspirado a lutar pela sua vida.
Outro factor reconfortante para o doente é perceber o meu genuíno  entusiasmo pelos tratamentos que advogo e que também a mim tanto ajudaram. É importante que o doente se  envolva no processo terapêutico e perceba através de uma linguagem simplificada (mas não simplista) em que consiste, como funciona o seu tratamento e o seu papel fundamental na obtenção de bons resultados.  
Ouvir o doente é naturalmente crucial neste acompanhamento. Quase sempre é mais fácil desabafar com um estranho do que com um familiar ou amigo que acompanha ou que é um dos cuidadores. Saber escutar também é muito terapêutico pois permite que o doente filtre emoções, medos e dúvidas. Tento fazê-lo sempre que posso pois sei bem o bem que faz. 
Infelizmente algumas das pessoas que acompanho estão claramente a viver as últimas semanas ou dias da sua vida, mas mesmo assim mantenho-me sempre positiva e embora adapte o meu discurso à circunstância de cada um, não deixo de lutar até ao fim, pois de tempos a tempos tenho o privilégio de assistir a um verdadeiro milagre.
Raquel Abreu, Patient Advocate

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