Muito se tem escrito sobre a “boa morte”, como se houvesse mortes boas e mortes más, como se todas as mortes não nos deixassem um vazio e até fossem algo desejável para todos, até para o próprio que a abraça deixando para trás tudo o que foi e o que é. Se falamos de morte, é imperativo falar de vida, e quanto à vida ainda nos sobra muito mais para dizer. O debate público tem suscitado muitas paixões e posições extremas de quem participa ativamente nesta reflexão, o que não é de estranhar, porque se de um lado os argumentos são muito mais imediatos, assertivos e percetíveis, do outro apresentam-se razões que transcendem a própria natureza humana, valores que nos unem mas são invisíveis, sentimentos que são invocados mas pouco praticados. Estamos, assim, perante uma discussão transversal que ocorre simultaneamente em vários círculos, convocando a ética, o enquadramento jurídico, a religião e a política. Uma discussão que à primeira vista pode parecer muito prática e técnica e com efeitos circunscritos à sua substância, mas que, no entanto, vai desviando do foco o que verdadeiramente implica alterar a forma como tratamos e encaramos a vida e a morte na sociedade contemporânea, com argumentos simplistas esgrimidos de forma primária para que, intencionalmente, bloqueiem a reflexão dos cidadãos, colocando-os à superfície da problemática. Em concreto, a favor da despenalização desta prática temos o fator sofrimento e a dignidade na hora da morte, e acresce também o objetivo de se referendar esta matéria, tornando-a uma decisão de todos, logo, a meu ver, desresponsabilizando os decisores políticos, que são quem deve analisar a fundo esta matéria, constituindo grupos de trabalho que promovam a reflexão conjunta entre cidadãos e decisores. Leia o artigo na integra aqui
*Alexandra Duarte, escreve no jornal i.
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