Numa altura em que a discussão pública da eutanásia volta à ordem do dia, depois do último encontro do ciclo de debates sobre o final de vida do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, foram várias as notícias que saíram na imprensa sobre as dúvidas sobre a legalização da eutanásia em Portugal. Para continuar a ajudar ao esclarecimento da opinião pública presentamos um excerto artigo de opinião de Francisco Rodrigues dos Santos, publicado no início deste ano no jornal Público.
"As opções não se resumem a sofrer ou
morrer. Que sentido faria que a solução oferecida pela medicina
para aliviar o desespero fosse o paradoxo de destruir activamente o
valor supremo que visa preservar? Endossar-lhe esse poder é contra a
sua natureza milenar. Que confiança merecerá um médico a quem é
conferida a permissão de apresentar a morte ao paciente como
prescrição? A expectativa é a de que saiba tratá-lo, rejeitando
aderir a uma cultura de descarte ou de avaliação segundo o modelo
da “rampa deslizante”.O momento desafia-nos a
priorizar o investimento na qualidade da vida, a única forma de o
seu termo, no instante capital, ser um epitáfio da sua dignidade.
Ampliando a rede de acesso aos cuidados paliativos, prestando uma
assistência conveniente ao domicílio e facultando apoios sociais
adequados. Se este suporte conferido pelo Estado compaginar uma opção
disponível para aqueles que dela carecem, o objectivo morte
diluir-se-á.
Um quadro de leis que
permita matar, estimulada pelo egoísmo social, imprime um risco
incontrolável na sociedade. Arruína a relação médico-doente.
Dissemina a suspeita no sistema de saúde. Configura novos padrões
éticos que, podendo servir a alguns – não discuto – são
anti-sociais, por não colocarem a salvo os mais fracos, os pobres,
os dependentes, os idosos, da hipótese de uma morte para qual,
eventualmente, poderão ser dirigidos. Porque esta franja sente-se um
fardo para as suas famílias, ou estão abandonados, ou são
incapazes de exprimir a sua vontade, ou vulneráveis a critérios
economicistas, que os torna incapazes de custear os tratamentos numa
fase terminal, por norma os mais dispendiosos para orçamento
familiar e também para o Estado.
A eutanásia não decreta
só o fim do suplício. Acaba com a vida, com tudo. Tem um efeito
desproporcional em face da real circunscrição do problema,
delimitado no perímetro do sofrimento, nunca da vida. Valerá a pena
acalentar a esperança de compor a avaria em vez de destruir a
máquina. Qualquer veneno mortal passa a ser um remédio eficaz, na
medida em que nos retira as aflições e as angústias de qualquer
ordem: amorosas, financeiras, profissionais, biológicas, pessoais.
Só que também nos extingue, importa não esquecer."
Pode ler todo o artigo aqui.
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