sábado, 14 de janeiro de 2017

Estudo de 2016 alerta para o aumento da prática da eutanásia em doentes psiquiátricos

Sabia que a prática da eutanásia e do suicídio assistido em doentes psiquiátricos está a aumentar nos países que legalizaram a prática? Um estudo recente publicado na revista internacional JAMA Psychiatry descreve as principais características dos doentes psiquiátricos submetidos à eutanásia ou ao suicídio assistido entre 2011 e 2014 na Bélgica e na Holanda. Dos 66 casos analisados, 70% ocorreram em mulheres. Em termos etários, 24% tinham entre 30 e 50 anos, 44% entre 50 e 70 anos e 32% 70 ou mais anos. A maioria dos doentes tinha um historial complexo a nível psiquiátrico, médico e psicossocial. As perturbações depressivas foram o principal problema nestes doentes (55% dos casos), descritos como socialmente isolados. Outras condições representadas na amostra foram as perturbações de ansiedade, traumas e factores de stress, perturbações da alimentação e da ingestão, bem como a perturbação do espectro do autismo. A presença de deficiências funcionais e sensoriais que dificultam as actividades da vida diária foram também identificadas. Estes indicadores merecem uma importante reflexão por parte dos profissionais de saúde e da sociedade em geral. O estudo permite perceber que em países em que as práticas da eutanásia e do suicídio assistido se encontram legalizadas, as mulheres com perturbação psiquiátrica crónica, nomeadamente com uma perturbação depressiva grave, apresentam um maior risco de morte deliberada pela eutanásia ou suicídio assistido. Uma perturbação psiquiátrica crónica representa uma condição muito significativa de fragilidade clínica e social, a par do facto de o juízo crítico e da capacidade de tomada de decisões ficarem francamente comprometidos. Neste contexto, é frequente que a pessoa possa pensar “a minha vida não faz sentido”. As pessoas com perturbação depressiva grave foram o principal alvo de eutanásia e de suicídio assistido. Os pensamentos centrados em terminar com a própria vida (das ideias de autodesvalorização à autodestruição), gerados por sentimentos de inutilidade, de desmerecimento da vida ou de incapacidade para lidar com a dor, são situações comuns nestas pessoas e alertam-nos para a necessidade de aperfeiçoar e humanizar o sistema de cuidados de saúde mental. A eutanásia e o suicídio assistido serão a solução para pessoas com perturbação psiquiátrica?

Reflexão de Inês Saraiva Ferreira (Psicóloga, especialidade de neuropsicologia e psicologia clínica e da saúde, doutorada em avaliação psicológica)


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